A racialização do fracasso escolar a partir de queixas escolares: discutindo a ideologia presente no discurso de agentes educacionais
Data
Autores
Orientador
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar quais as concepções ideológicas que alicerçam os discursos dos agentes educacionais quanto à atribuição de causalidade diante do suposto “fracasso escolar” de jovens negros. Para tanto, propõe-se uma investigação baseada no conceito de “queixas escolares”, encaradas enquanto discursos dotados de ideologias acerca da atribuição de causalidade para o fenômeno do fracasso escolar. Em um primeiro momento, o fracasso escolar foi abordado como fenômeno complexo, produzido e reproduzido a partir da influência de forças engendradas nos campos político, econômico, institucional e social que influenciaram a educação escolar. Em seguida, buscou-se evidenciar conexões entre a desigualdade racial e social e a produção do fracasso escolar, e analisar a correlação entre ideologia, discurso e práxis de agentes educacionais acerca de estudantes negras e negros ditos como portadores de dificuldades de aprendizagem, leia-se fracassados. Finalmente, considerou-se a necessidade de abordarmos o problema da desigualdade racial na Escola de modo mais efetivo na compreensão e no enfrentamento do fracasso escolar, partindo de um estudo baseado no método etnográfico com vistas à compreensão/intervenção da/na realidade hora apresentada. A pesquisa foi realizada na região metropolitana de Salvador, mais especificamente no município de Camaçari, envolvendo gestoras de duas escolas públicas. Como resultado, foi possível evidenciar, a partir dos discursos das agentes educacionais, a aplicabilidade da concepção althusseriana que aponta a escola como um aparelho ideológico de Estado (AIE) no que tange, no caso específico desse trabalho, às suas concepções e ações frente ao fracasso escolar de jovens negros, partindo de agentes educacionais que ocupam cargos de gestão escolar. Visualiza-se nos discursos uma reformulação ideológica da Teoria da Carência Cultural em duas direções: da culpabilização familiar pelos ditos fracassos escolares; e da judicialização do fracasso escolar como possível intervenção frente às ditas famílias ausentes. O silenciamento diante das tensões que as disparidades sociorraciais causam aos estudantes negros ao longo da história e nas suas práticas escolares também é um fruto relevante da presente dissertação. Em suma, aponta-se a precária relação família- educandos-escola como ponto significativo em intervenções e/ou pesquisas futuras sobre tais fenômenos.