Considerando o processo de embranquecimento sofrido por Machado de Assis que, mesmo de origem humilde e neto de escravizados, sempre fora retratado como um autor canônico branco pela elite racista, bem como algumas possíveis dificuldades enfrentadas pelos jovens leitores de hoje ante a sua escrita, esta pesquisa intenciona analisar dois contos machadianos Pai contra mãe de 1906 e O caso da vara de 1891, afim de reafirmar o comprometimento social do autor com a situação dos negros e negras escravizados, denunciando, por meio da escrita em jornais ou livros, as violências sofridas por eles. Pretende-se também colaborar para que os estudantes superem possíveis dificuldades de leitura do texto machadiano, ressaltando sua atualidade e sua criticidade, bem como, antes de tudo, contribuir para o combate ao racismo, apoiando uma decolonialidade dos currículos, a partir da inserção de escritores e escritoras negros no ensino de literatura nas escolas. Para tanto, retomamos os conceitos de leitura e leitor a partir de Cademartori (2009), Canclini (2008), Iser (2005), Pina (2012), Rojo (2013), Rojo e Moura (2012) e Yunes (2009), fazendo ainda reflexões acerca da importância da literatura na construção identitária do leitor em Candido (1995) a partir das representações de Hall (2016). Também serão estudados autores como Bernd (1988), Conceição Evaristo (2009) e Fonseca (2006) que versam sobre a temática da literatura afro-brasileira e tendo como maior aporte teórico os estudos de Duarte (2007), pois viabiliza a análise da escrita machadiana como um autor crítico à escravidão e contribui para uma decolonialidade do currículo, concordando com o estudo de Gomes (2019) e Torres (2019). Como resultado deste percurso teórico apresenta-se uma proposta de intervenção sob o olhar da Estética da Recepção do teórico Jauss (1994) e que, por meio de uma oficina proposta às turmas de segundo ano do Ensino Médio, pretende-se preparar jovens leitores para a leitura dos textos machadianos.