Apartir de uma impressionante e sensível pesquisa, Tânia Vasconcelos nos revela um sertão da Bahia marcado pelos impasses provocados pela modernidade, pelas dificuldades de aplicação da Justiça, pelas reconstruções das hierarquias sociais, raciais e de gênero em um período de profundas transformações na região nas décadas de 1940 e 1950. Entre juízes, promotores, jornalistas, mães, pais, patrões, trabalhadoras, acusados e ofendidas, passamos a conhecer as concepções e vivências amorosas, afetivas e sexuais de mulheres pobres, suas famílias e suas redes de sociabilidade. Ao longo deste livro, mesmo que enredadas nas teias dos valores dominantes da virgindade e limitadas a suas difíceis condições de vida, são reveladas pela autora mulheres corajosas e audaciosas, que lutam por suas paixões e desafiam as imagens de passividade e da perdição moral, costumeiramente associadas a mulheres simplesmente por serem pobres, negras ou sertanejas. Ao final, ficamos inteiramente convencidos do protagonismo dessas mulheres na construção de suas histórias de paixão, desejo e rebeldia. Convido o(a) leitor(a) a seguir em frente. Em tempos tão difíceis e conflituosos em relação a uma pretensa crise moral, diretamente articulada à discussão dos papéis sexuais e de gênero, nada melhor do que acompanhar um livro em que é possível perceber o movimento da história. As mudanças e as lutas, muitas delas vitoriosas, pela defesa da diversidade sexual, amorosa, racial e de gênero não podem ser esquecidas.