Esta pesquisa buscou entender como a trajetória do Terno de Reis contribuiu para a manutenção do catolicismo popular entre 1986 e 2023, na comunidade quilombola de Antarí-Ba. Nessa comunidade, o Terno de Reis se destaca pelo tempo de existência, os rituais simbólicos, a participação de jovens e o envolvimento da comunidade na organização da festa, demonstrando fé e devoção, entre tantas outras expressões religiosas do catolicismo popular local. Nas tessituras das memórias individuais e coletivas, buscou-se identificar a religiosidade, os rituais, regras e simbolismos presentes nas relações vividas no decorrer da trajetória temporal do Terno de Reis, pois, mesmo sem irmos à igreja, somos capazes de lembrar com detalhes e de modo preciso o que vivemos no grupo daqueles que têm crenças iguais às nossas. Para tanto, investigaram-se as semelhanças entre o catolicismo atual e o praticado pelas irmandades do século XIX, como a religiosidade se expressou na memória e ações dos devotos de Santos Reis e como as relações sociais e identitárias se manifestam no contexto do Terno de Reis. Destaca ainda o Terno de Reis enquanto lugar de muitas memórias vinculadas à religiosidade, herdadas dos antepassados e conservadas através da transmissão oral entre as gerações. Traz ainda as memórias de fundação da comunidade, comparadas ao processo de povoamento do sertão baiano a partir da pecuária extensiva nos séculos XVIII e XIX, bem como do processo de garimpagem na Chapada Diamantina.