Formação continuada, educação do campo e multiletramentos em Monte Santo/BA: entre memórias, contextos e ressonâncias
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Resumo
O objeto desta investigação é a formação continuada de professores de escolas do campo, com implicações diretas para as práticas pedagógicas e políticas educacionais. O estudo focaliza os programas de formação continuada, realizados a partir de 2012, na rede pública de ensino monte-santense, notadamente o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e o Programa Escola da Terra. O interesse pela pesquisa surgiu a partir da seguinte questão: quais as implicações da formação continuada de professores, realizada pelo PNAIC e Programa Escola da Terra, para a promoção de uma educação contextualizada no campo, no âmbito do Ensino Fundamental — anos iniciais, em Monte Santo, Bahia? O objetivo geral é compreender as implicações da formação continuada de professores, realizada pelo PNAIC e Escola da Terra, para promoção de uma educação contextualizada no campo, no âmbito do Ensino Fundamental — anos iniciais, em Monte Santo/BA. Trata-se de um estudo de caso (Yin, 2001), de abordagem qualitativa, estabelecido a partir das premissas da pesquisa colaborativa, que envolve o pesquisador e os participantes em uma construção conjunta dos dados (Ibiapina, 2008), tendo a etnometodologia, abordagem que estuda os métodos que as pessoas usam para construir e dar sentido às suas ações no cotidiano (Garfinkel, 2018; Coulon, 1995, 2017), como fundamento epistemológico. A pesquisa foi desenvolvida com a participação de nove professores através de questionário on-line, entrevista narrativa e sessões reflexivas, momentos nos quais os diálogos e as problematizações se evidenciaram com êxito. Para a análise e a interpretação das realidades empíricas, adotou-se a análise textual discursiva (Moraes; Galiazzi, 2016). A tessitura teórico-epistemológica pauta-se na interação verbal (Bakhtin, 2011, 2014), tendo como pilares os seguintes domínios: formação continuada de professores (Imbernón, 2011, 2016; Nóvoa, 2009, 2011, 2023; Freire, 2015; Tardif, 2014); educação do campo (Arroyo, 2007, 2011; Caldart, 2009, 2011); e multiletramentos (GNL, 2021; Rojo, 2012; Street, 2014). Justifica-se o estudo pela relevância e urgência de analisar os programas de formação continuada de professores e suas implicações à educação do campo, visando (re)pensar políticas e ações de formação continuada que considerem o professor como agente social, produtor de saberes e autor de suas próprias práticas, subvertendo à formação vertical — pensada para os professores. Os resultados, oriundos dos discursos dos professores e das interpretações realizadas, permitem inferir que a troca de experiências e a construção coletiva do conhecimento elaborado se constituíram como elementos fundamentais para desenvolver novas e melhores práticas docentes. Entretanto, observa-se que as ações de ambos os programas deixaram lacunas no que concerne à promoção de estudos, à reflexão crítica e à ressignificação da docência no campo, pois não conseguiram transgredir ao paradigma urbano ainda evidente rede de ensino estudada. Romper com essa concepção e construir uma educação contextualizada no campo reivindica a adoção de um novo paradigma, aliado à mobilização social, visando promover reformas curriculares, pedagógicas, formativas e infraestruturais. A interação com os docentes evidenciou a urgência de decisões estratégicas no âmbito da formação continuada: escuta responsiva aos professores; considerar o contexto do trabalho pedagógico; superar a distância entre a teoria e a prática, entre o gesto e a palavra; reconhecer e valorizar as experiências e os saberes docentes; bem como instituir uma formação colaborativa e situada com os professores. Esses elementos constituem em um esforço epistemológico essencial para o alcance dos objetivos declarados.