Repercussões da pedagogia jesuíta na educação contemporânea: resistência da rattio studiorum na política pedagógica
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Resumo
Este trabalho emerge de uma inquietação teórica diante das tendências pedagógicas vigentes na educação brasileira contemporânea, buscando investigar suas origens e continuidades históricas a partir do estudo da educação colonial, especialmente a influência hegemônica da pedagogia jesuítica. A pesquisa se apoia na compreensão de que práticas pedagógicas históricas, marcadas pelo eurocentrismo, autoritarismo disciplinar, catequese e exclusão de saberes e sujeitos subalternizados, não foram superadas, mas sim resinificadas e incorporadas ao sistema educacional contemporâneo. Esse processo ocorre mesmo diante do discurso oficial que se pauta pela inclusão, pluralidade e democratização, revelando tensões estruturais entre permanências coloniais e rupturas propostas pelas políticas educacionais recentes. A análise documental é o principal procedimento metodológico adotado, orientada por uma abordagem qualitativa e contextualizada, que considera as condições históricas, políticas e sociais da produção e circulação dos documentos. Documentos-chave como a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) são examinados não como avanços neutros ou progressistas, mas como espaços de disputa ideológica e reprodução de desigualdades sociais e culturais historicamente sedimentadas. Essa perspectiva crítica revela como esses documentos, ao mesmo tempo que proclamam direitos e ampliam o acesso formal à educação, incorporam em suas entrelinhas elementos que reforçam lógicas meritocracias, centralizadoras e disciplinadoras. Dessa forma, evidencia-se que o modelo educacional brasileiro, longe de romper com sua matriz colonial e jesuítica, adapta seus dispositivos para sobreviver no contexto neoliberal atual, marcado pela mercantilização da educação e pela manutenção das hierarquias sociais. Assim, o estudo propõe uma problematização profunda sobre o grau em que as reformas educacionais recentes efetivamente rompem com os paradigmas coloniais ou apenas os reproduzem sob novas roupagens, mantendo um modelo que limita o acesso real e qualitativo à educação para a grande maioria da população. Enfatiza-se, portanto, a necessidade de compreender a educação brasileira como um campo de conflito político-cultural, onde a luta pela democratização e inclusão verdadeira enfrenta a persistência de mecanismos históricos de exclusão e controle social.