Neste estudo, apresento uma discussão sobre a comunidade multifacetada de Lagoa da Pedra (negra, rural, sertaneja e remanescente de quilombo), localizada no município de Ibititá, Bahia, Brasil; buscando, principalmente nas fontes orais, um operador teórico para dar visibilidade a um grupo social que historicamente encontra-se silenciado ou marginalizado. O uso da história oral, através da realização de entrevistas semiestruturadas com moradores mais velhos da comunidade foi uma estratégia usada para se ter acesso às memórias e experiências deste povo e revelar aspectos importantes da comunidade, tais como: seu surgimento, a origem de seu povo, as relações étnico-raciais e familiares, as manifestações culturais e religiosas e a organização comunitária. O estudo teve como recorte temporal as duas últimas décadas do século XX e duas primeiras do século XXI e apresenta um breve apanhado histórico sobre as comunidades quilombolas e o processo formativo de Lagoa da Pedra, destacando a religiosidade como um traço identitário da comunidade pesquisada. Busquei também, na análise de outras fontes (documentos escritos, aplicação de questionários, dados do IBGE) e em estudos similares produzidos por pesquisadores da região de Irecê e outras localidades, fomentar consistência teórica aos dados coletados. Para tanto, encontrei aporte teórico nas contribuições de: Sampaio (2023), Ferreira (2014), Anjos (2023), Dourado (2023), Mendonça (2005), Pereira (2010), Melo (2012; 2024), Reira (2017), Portelli (2000; 2012; 2016), Schwarcz (2012), Adichie (2009), Bardin (1977), Pollak (1989), Vieira Junior (2017), entre outros. Apresento ainda um breve perfil dos colaboradores participantes das entrevistas semiestruturadas e realizo a análise do material coletado, explorando as três principais categorias temáticas que revelaram dados sóciohistóricos e culturais de Lagoa da Pedra e também alguns aspectos peculiares e especificidades que caracterizam a comunidade em questão. Portanto, esta pesquisa serviu, entre outros aspectos, para fornecer uma discussão acadêmica sobre a história de uma comunidade que dispõe de pouco material escrito sobre sua trajetória. E, nesse contexto, o uso da história oral foi importante para dar voz a um povo que, até então, encontrava-se “silenciado” ou negligenciado pela historiografia. Além disso, este material poderá servir como fonte para novas pesquisas ou ainda para o uso pedagógico, especialmente nas escolas da comunidade, corroborando para pôr em prática a Lei 10.639/03.