O presente artigo propõe uma análise das obras O peso do pássaro morto (2017) e Pequena coreografia do adeus (2021), ambas da escritora brasileira Aline Bei. As duas obras integram um projeto literário que tematiza, de maneira sensível e inovadora, a experiência feminina, com destaque para a maternidade em suas formas não idealizadas. A pesquisa parte da hipótese de que Aline Bei mobiliza recursos linguísticos e estruturais — como a fragmentação narrativa, os silêncios e a repetição poética — para desconstruir o arquétipo da “mãe perfeita”, apresentando personagens maternas marcadas por falhas, ausências e contradições emocionais. A proposta consiste em examinar comparativamente os procedimentos estilísticos das duas narrativas, a fim de identificar como a linguagem, mais do que transmitir o conteúdo temático, opera como campo de resistência aos discursos normativos sobre a maternidade. A pesquisa busca também entender como Bei insere suas personagens em um panorama mais amplo da literatura contemporânea brasileira escrita por mulheres, em que se observa uma tendência a representar subjetividades femininas complexas e vulneráveis. O principal objetivo da investigação é compreender como a linguagem poética e fragmentária utilizada pela autora performa as tensões da experiência materna, desmontando idealizações históricas que ainda persistem na sociedade contemporânea ocidental. Este estudo articula ainda as análises literárias com referenciais teóricos dos estudos feministas, a fim de demonstrar como a literatura pode contribuir para o questionamento de estereótipos sociais e para a construção de representações mais plurais e realistas da maternidade.