Da ficção à periferia de Salvador: uma leitura dos processos educativos que reforçam a dominação e sexonegação de mulheres negras
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Resumo
Esta pesquisa busca, a partir da inspiração ficcional da narrativa ―Niketche: uma história de poligamia‖ (2004), da autora moçambicana Paulina Chiziane, abordar acerca da sexonegação das mulheres negras de periferia urbana, analisando como os processos educativos formais e não-formais interferem na experiência de vida de mulheres negras, trabalhadoras e/ou moradoras do bairro de Paripe, periferia de Salvador, Bahia. A pesquisa é embasada numa literatura epistêmica negra, feminista e decolonial, partindo da problematização do que é ser mulher negra. Nessa perspectiva, mulheres negras torna-se categoria central de análise por dois motivos: o primeiro, por entender a relação direta com as dimensões interseccionais que cercam o conceito sexonegação; o segundo, por ser uma categoria pensada e criada pelas próprias mulheres negras, devido à necessidade de discutir as assimetrias de raça, classe e gênero numa dialética entre opressão e ativismo, constituindo o pensamento intelectual feminista negro. Assim, a partir das categorias dor, abandono (ausência e solidão) e amor, que estão presentes ao longo da narrativa e que fazem parte da experiência de vida de mulheres negras marcadas por dificuldades e desafios econômico-financeiros e culturais, este estudo quer entender como as dimensões e as variantes interseccionais como a Família, as Instituições de poder (Escola, Estado, Igreja e Trabalho) e o Casamento são lugares de produção da sexonegação. O conceito sexonegação, criação da própria autora, revela-se como profícuo para entender os diversos processos de negação das mulheres negras nas suas diversas formas, ocorrendo desde o nascimento e perpassando ao longo da vida: uma estrutura de aprisionamento que emerge na subjugação e no controle. Esta pesquisa tem ainda como objetivos específicos: identificar elementos que caracterizam o processo de sexonegação vivenciados por mulheres negras moradoras de uma periferia urbana em Salvador-Ba e estabelecer um paralelo das experiências das mulheres ficcionadas na narrativa ―Niketche: uma história de poligamia‖ com as das mulheres de periferia urbana de Salvador. A pesquisa, de abordagem qualitativa, de natureza descritiva-exploratória, desenhada como uma Pesquisa narrativa, é amparada, portanto, em narrativas ficcionais e factuais, apoiada na escrevivência oralizada, elaboradas na obra ―Niketche‖ e em situação de entrevistas individuais semiestruturadas com mulheres negras de camada trabalhadora de Salvador. O diálogo teórico fundamenta-se em autoras e autores do campo da educação e outros afins, como Piedade (2017), Carneiro (2009), Hooks (2021), Pacheco (2008), Gonzalez (2011) e Collins (2019)