O discurso do outro sobre pessoas em situação de rua em Teixeira de Freitas (BA)
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Resumo
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a problemática social da situação de rua por meio da realização de entrevistas com comerciantes, moradores da cidade, estudantes e transeuntes que convivem com pessoas em situação de rua em Teixeira de Freitas (BA), buscando compreender relações linguístico-discursivas, perspectivas ideológicas e correlações com práticas sociais. Os seguintes trabalhos foram considerados na fundamentação teórico- metodológica: a abordagem dialético-relacional da Análise de Discurso Crítica (ADC) proposta por Fairclough (2001; 2003; 2015; 2016); o panorama feito por Wodak e Meyer (2016) sobre os Estudos Críticos do Discurso; os estudos de Silva (2009) sobre situação de rua; a teorização de Thompson (2011) sobre ideologia. Na metodologia, foram observadas as proposições de Flick (2009), considerando contextos e práticas sociais. A pesquisa empregou, como instrumento de geração de dados, entrevistas semiestruturadas (Gaskell, 2007). O entendimento do contexto onde vivem pessoas em situação de rua também faz parte deste trabalho. Os resultados, ao desenvolver uma Análise de Discurso Crítica (ADC) relacionada à situação de rua, revelam a capacidade desse paradigma de pesquisa em identificar formas linguísticas que moldam significados e ações relacionadas ao problema social em questão. A perspectiva crítica da ADC destaca as dinâmicas de poder nos discursos, expondo ideologia subjacente que exerce influência sobre políticas públicas, práticas sociais e a percepção da sociedade. Nos resultados desta pesquisa, em relação às práticas sociais, destaca-se uma inclinação para responsabilizar individualmente as pessoas em situação de rua, sugerindo que a recusa de ajuda é uma “escolha”. A estigmatização emerge ao simplificar a complexidade da situação de rua, atribuindo as dificuldades a decisões individuais, sem considerar fatores mais amplos. Quanto as categorias analíticas, o gênero discursivo entrevista semiestruturada propiciou versatilidade na geração de dados e relevância para a interação. A representação dos agentes sociais indicou, por um lado, uma lacuna de conhecimento sobre as ações do Poder Público em relação à situação de rua; por outro lado, afirmou-se que o mesmo deve ter responsabilidade nessa questão. A análise intertextual revela a ausência das vozes dos responsáveis pela implementação de políticas públicas, como políticos e governantes. Foram encontradas escolhas lexicais que reforçam estigmas e preconceitos, como “lixo social”, “bicho”, “ressocializar” e “ser da rua”. Contudo, a palavra “direito” apareceu de forma positiva. Por meio da análise interdiscursiva, observou-se que o discurso de escolha, o discurso de meritocracia e o discurso de violência são frequentemente legitimados e naturalizados, enquanto outros, como o discurso de igualdade e o discurso da justiça social, são menos proeminentes e, em alguns casos, silenciados.