A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) orienta a inserção das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no âmbito do SUS e a literatura aponta a importância destas práticas na construção de uma visão ampliada do processo saúdedoença e do cuidado. Este trabalho teve por objetivo reconfigurar as condições de possibilidade que permitiram a incorporação de profissionais com formação em PICS no quadro de servidores de um município da Região Metropolitana de Salvador (RMS), Bahia, a partir da abordagem sócio-histórica proposta por Patrice Pinell e da sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu. Foi desenvolvido um estudo de caso, com abordagem qualitativa, cujos dados foram coletados por meio de entrevistas em profundidade com agentes que tiveram participação no processo de formulação da proposta de incorporação de profissionais com formação em PICS no município. Também foram analisados documentos que permitissem triangular informações acerca da implementação local das PICS. Paralelamente, foi desenvolvido um componente quantitativo com o propósito de caracterizar o perfil sociodemográfico, bem como a formação e atuação em PICS dos profissionais que realizam tais práticas na rede de atenção à saúde do município. Para tanto, foram aplicados questionários estruturados, no formato eletrônico, e os dados analisados por meio do pacote estatístico SPSS. Os resultados revelam como condições de possibilidade a cultura de valorização dos cuidados tradicionais, a reforma psiquiátrica enquanto impulsionadora na organização da Rede de Atenção Psicossocial, a influência dos trabalhadores comprometidos com as PICS como condição para aceitação de tais práticas pelos gestores e a Política de Humanização do SUS. Observou-se ainda que as práticas estão inseridas no município tanto na atenção primária à saúde como na atenção especializada, sendo a auriculoterapia e acupuntura julgadas como mais relevantes pelos profissionais. Estes trabalhadoresjulgaram relevante a inserção das PICS no SUS, percebidas como ferramenta para ampliação da oferta de serviços e atenção integral. Apesar dos investimentos da gestão municipal em cursos de formação em PICS, muitos profissionais ainda autofinanciam sua formação. Os achados poderão contribuir com o debate sobre cuidado ampliado e as PICS, além de fomentar a construção da Política Municipal de Práticas Integrativas e Complementares.