Esta pesquisa procura analisar as experiências dos cativos, através de documentos cartoriais e eclesiásticos, entrelaçada ao contexto econômico, político e social de Serrinha, no sertão baiano entre 1870 a 1886, últimos anos do sistema escravista, o qual, por diversos motivos, já se encontrava em declínio. O período estudado é caracteziado, pela concentração de propriedades de terras, gado e cativos nas mãos de poucos proprietários, que no final eram controladores dos meios de produção, demonstrando grande prestígio social. Sendo possível essa informação, a partir da análise, dos bens constantes na amostra de inventários pesquisada. Nessa conjuntura, os escravizados não estavam isolados, a população negra estava convivendo cotidianamente com os proprietários. Não estamos propondo nesta pesquisa a posição do cativo apenas como propriedade, mas como uma propriedade em movimento, que a partir da experiência adquirida cotidianamente no cativeiro, entrelaçavam relações de negociações e conflitos com seus senhores. Todavia, os cativos por meio da vivência no cativeiro, engendraram mecanismos próprios para o enfrentamento do sistema escravista. A partir do cruzamento das informações nominativas constantes nos inventários post-mortem com os registros paroquiais de batismo, pudemos reconstituir algumas famílias negras. Além disso, foi possível verificar a estabilidade da família escrava vivendo nas propriedades, a partir da partilha dos bens dos proprietários, momento esperado por todos, principalmente pelos cativos. Os escravizados criaram, além de vínculos consanguíneos, de espíritos, solidificando os laços entre o grupo e compartilhando experiências e recordações, buscando construir projetos de vida próprios, que de alguma forma amenizavam o aspecto degradante do sistema escravista.