Corpos femininos sob a insígnia da violência de gênero: As três Marias e As Meninas
Data
Autores
Orientador
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
A violência de gênero, seja física, psicológica ou sexual, é um fenômeno que, há muito tempo, faz parte do princípio dos pilares da dominação patriarcal. A partir do século XX, esse tema, sob a ótica da literatura, ganha um novo contexto quando escritoras assumem a voz autoral de textos que denunciam mulheres em situação de opressão. Partindo desse cenário, esta dissertação se propôs a analisar, com base na abordagem comparativa, produções literárias escritas por duas autoras que evidenciaram em suas obras crimes contra mulheres. Desse modo, pretendeu-se discutir a construção dos corpos femininos e as marcas dessas violações em duas obras da literatura brasileira, uma de 1939, As três Marias, de Rachel de Queiroz, e outra de 1973, As Meninas, de Lygia Fagundes Telles. Para tal intento, a dissertação foi dividida em três capítulos. No primeiro, foi apresentado um sucinto estudo das produções literárias escritas por mulheres no Brasil, levando em conta o momento histórico e questões de autoria feminina em Eurídice Figueiredo (2013), Constância Lima Duarte (2022), Silvia Federici (2017) e Mary Del Priore (2004). No segundo, buscou-se tipificar e elucidar as violências de gênero nos romances, a contar das pesquisas de Judith Butler (2015), Heleieth Saffioti (2015), Lia Zanotta Machado (2010) e Marcela Lagarde (2011). Valendo-se das leis vigentes à época e da recepção contemporânea, analisou-se também como a pauta da descriminalização do aborto foi discutida nas obras, partindo das análises de Maria Betânia Ávila (2019), Wilza Vilela, Regina Barbosa (2011) e Leila Barsted (2019). Ao final, no terceiro capítulo, foi explorado como as seis personagens se ocuparam de seus corpos e suas sexualidades. Para definirmos as estratégias narrativas destes atributos, realizou-se um mapeamento dos tipos de representações dos corpos femininos, discutindo questões de gênero, identidades e lesbianidades, em especial, abordagens analíticas sobre o corpo feminino em Elódia Xavier (2021), Luciana Borges (2013) e Guacira Lopes Louro (1997). Sendo assim, Queiroz e Telles nos apresentaram literaturas que romperam a fronteira da representação e nos proporcionaram um legado importante para discutir o corpo feminino como índice da violência de gênero no Brasil.