Entre alienígenas, mutantes e zumbis: os mash ups literários de Machado de Assis
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Resumo
A literatura contemporânea está em constante processo de transformação, devido ao fato de impulsionar operações diferenciadas de cunho criativo na composição de produções literárias. Essas modificações impulsionam a reorganização de papeis no seio literário, sobretudo o do leitor que, deslocando-se da alcunha da passividade, vê-se motivado a participar e explicitar sua criticidade acerca do que consome. Uma das nuances obtidas a partir da emancipação leitora é o fato de esses indivíduos transformarem-se em novos produtores e, ainda que de forma estigmatizada, gerarem produções a partir de outras já existentes, consolidando as práticas apropriativas. O mash up literário, técnica de apropriação que consiste na mixagem por aglutinação de duas ou mais obras literárias (geralmente pela mistura de elementos textuais de obras canônicas e contemporâneas), insere elementos da cultura de massa nas suas produções, como zumbis, mutantes, alienígenas, elementos de ficção científica e afins, consolidando-se como uma forma recente de produção no segmento literário. Contudo, esse modelo de escrita encontra-se em processo de reconhecimento, haja vista que se trata de fazer com que obras canônicas e seus escritores se desloquem de um lugar de autoridade e passem a ser pensados como geradores de atividades, conforme endossa Nicolas Bourriaud (2009), na teoria da pósprodução. Para que isso aconteça, o sujeito ledor se apropria da proposta da cultura participativa de Henry Jenkins (2009), que fomenta um perfil mais crítico do indivíduo em relação ao que lê. Com base nessa discussão, esse estudo investigou de que forma as apropriações textuais contemporâneas executadas através das obras Dom Casmurro e os discos voadores (2010), O alienista caçador de mutantes (2010) e Memórias Desmortas de Brás Cubas (2010) deflagram novos modos de leitura e escrita na contemporaneidade, repaginando a linguagem, o perfil dos personagens e o enredo trazidos pela escrita de Machado de Assis nas obras clássicas Dom Casmurro (1899), O Alienista (1882) e Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880). A pesquisa desenvolvida foi de natureza qualitativa, sob o viés bibliográfico, tomando como base os preceitos de Fabio Akcelrud Durão (2020) e Antônio Joaquim Severino (2007). A partir da análise dessas produções apropriativas, foi possível visualizar que os autores apropriadores executam releituras que acompanham o seu repertório leitor e intelectual de maneira bastante subjetiva, deflagrando, de forma assertiva, os papeis de leitores partícipes no lastro literário. Além disso, no contexto prático, os releitores permitem a compreensão acerca do papel da emancipação leitora, que atravessou vários percalços no contexto historiográfico literário, hoje sendo capaz de inserir outros sentidos e visões para pensarmos o fazer literário. Além dos teóricos supracitados, estudiosos como Roger Chartier (1998, 2002, 2003, 2010, 2011), Roland Barthes (2004), Jorge Luis Borges (1951), Leyla Perrone-Moisés (1990), dentre outros, fundamentam esse estudo.