Educar pelas leituras: ações educativas como concepções morais e políticas veiculadas pelo jornal correio mercantil (Salvador, 1838-1839)
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Resumo
Esta pesquisa é resultado da análise de duzentos e sessenta e três exemplares do jornal baiano “Correio Mercantil” – de mais de dois mil e duzentos disponíveis na Hemeroteca Digital do portal da Biblioteca Nacional. Utilizamos quarenta e nove números desse periódico para examiná-lo como empreendedor, entre outras possibilidades de leituras, de ações educativas em Salvador, produzindo, reproduzindo e fazendo circular, entre abril de 1838 e março de 1839, concepções morais e políticas que interessavam a determinados grupos sociais – comerciantes, proprietários, negociantes, empregados públicos e titulares (nobres) – cujos valores, alinhados à ordem vigente, alimentavam expectativas de serem utilizados e seguidos por outros grupos de menor visibilidade política na cidade. Assim, analisamos tensões sociais na capital da província da Bahia no contexto dos anos finais da década de 1830, como o Levante dos Malês (1835) e a Sabinada (1837-1838), além de outras sublevações e desobediências rotineiras locais atribuídas pelo jornal aos sabinos e escravizados africanos. Nesse sentido, apreciamos as estratégias de leitura que os redatores e proprietários do “Correio Mercantil” – os irmãos João Antonio e Luiz Antonio de Sampaio Vianna – usaram para elaborar ou disseminar conceitos em nome de determinados grupos sociais envolvidos com atividades relacionadas com a dinâmica comercial da cidade; e como esses escritores públicos – em suas atuações jornalísticas e educativas – fizeram do seu periódico um suporte de linguagem empenhado em receber, registrar de forma impressa e imagética opiniões, posicionamentos políticos e ideológicos de representantes incisivos de uma cultura letrada que experimentavam estampar no jornal o combate intransigente daquilo que consideravam perigo à manutenção das relações de poder do referido grupo. Cientes da importância das tradições de oralidade constitutivas da maioria dos moradores da cidade, recorreram aos “boatos” como forma de repercutir e disseminar o medo, visando a composição de versões que fizessem proliferar ou preservar princípios tidos como apropriados àquela sociedade. A pesquisa foi realizada a partir de fontes documental e bibliográfica, como referencial teórico abordagens dos Estudos Culturais e da História Cultural que realizaram aproximações entre a produção e veiculação de informações e notícias em jornal, com leituras à “contrapelo” de valores morais e políticos produzidos por letrados para o consumo da sociedade mediante o suporte do jornal. Esse exercício de pesquisa possibilitou analisar o “Correio Mercantil”, tanto como fonte para a história, quanto meio de veiculação de concepções educativas, superando a superficialidade que pode limitá-lo a mera condição de documento histórico ou simples veículo de informação. Logo, procuramos ir além da transcrição – integral, abreviada ou fragmentada – sem problematização dos textos, tornando indispensável e crucial a análise das linhas e entrelinhas do que era estampado e útil à pesquisa.