Este trabalho surge das minhas inquietações cotidianas enquanto educador inserido em meu meio de atuação, uma escola pública de ensino médio localizada na periferia de Salvador, mas acima de tudo de minhas redes de interação e afeto criadas a partir dos encontros com as culturas estudantis que ali se desenvolvem. Para tanto, abarco três conceitos centrais que direcionam os passos desta pesquisa: o de culturas estudantis como universo simbólico compartilhado e particular à juventude brasileira, o de reprodução das estruturas historicamente estabelecidas pautando as teorias cunhadas nas obras de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, e das possibilidades concretas de transgressão das mesmas partindo das bases teóricas de uma pedagogia da liberdade em bell hooks. Baseio-me antropologicamente nas perspectivas e sentidos criados por estudantes acerca do espaço escolar e suas formas institucionais e simbólicas imbricadas em seus processos educativos. Parto do suposto que tais estudantes atravessam os portões da escola carregando consigo uma trama de sentidos e vivências pré-estabelecidos pelos universos culturais em que se inserem (relegados muitas vezes somente à uma exterioridade, um mundo “à parte, lá fora”), encontrando no espaço escolar formal um ambiente por vezes hostil às manifestações populares das culturas locais, bem como uma instituição reguladora de comportamentos. Para tanto, organizo minha metodologia a fim de criar uma observação participante de tipo etnográfico, a partir da construção de diários de campo autorais, aliada à discussão das temáticas e acompanhamento progressivo de trajetórias estudantis por meio de entrevistas individuais com estudantes concluintes ou egressos do ensino médio no colégio em que estou locado. A partir das reflexões oriundas de minhas vivências em campo e dos registros das relações imbricadas à cultura estudantil, pude elencar elementos substanciais que reforçam a noção de sujeitos ativos frente à estrutura institucional, conscientes dos fatores limitantes à sua emancipação, bem como possibilidades concretas de transgredir as insuficiências escolares ao buscar vivências de fato significativas para suas trajetórias.