A presente pesquisa tem como objetivo analisar as narrativas que organizam as propostas educacionais e as práticas pedagógicas na Educação de Jovens e Adultos, na cidade de Aracatu,BA, com vistas a desenvolver uma proposta pedagógica interventiva que tenha o trabalho como dimensão estruturante da formação humana. Para tanto, inicialmente, foi analisada a Educação de Jovens e Adultos como categoria teórica, tendo como base sua regulamentação na legislação nacional, o perfil dos sujeitos dessa modalidade e a forma pela qual ela se institucionaliza como um direito exigível por meio de política pública. Também é abordado o trabalho escravo no Brasil, desde uma análise histórica até a sua configuração na atualidade, e correlacionados os dados nacionais e os de Aracatu, município baiano e locus da pesquisa, que apresenta números expressivos de pessoas resgatadas do trabalho análogo ao de escravo a partir de um processo histórico de migração sazonal. Foi desenvolvida pesquisa de abordagem qualitativa e de natureza aplicada, e adotada, quanto ao procedimento, a pesquisa interventiva, que foi realizada com profissionais da rede municipal de educação do município de Aracatu. Para tanto, realizou-se um estudo de caso, com a técnica da roda de conversa, com vistas a compreender a tessitura das relações estabelecidas entre a política e as práticas da Educação de Jovens e Adultos com os trabalhadores inscritos em contexto de trabalho escravo. Os achados da pesquisa foram interpretados por meio de análise de conteúdo e também da triangulação, a qual se valeu de dados de órgãos oficiais e pesquisas, juntamente com teóricos como Freire, Arroyo e Cavalcanti, dentre outros. Os resultados da pesquisa apontaram que a Educação de Jovens e Adultos ofertada no município não se configura em suas práticas pedagógicas como um espaço onde jovens e adultos trabalhadores vulneráveis ao trabalho escravo estão inseridos e são levados a refletir sobre suas realidades. Diante disso, falta-lhes não apenas acesso ao direito à educação ao longo da vida; falta-lhes também um espaço de aprendizado onde o trabalho seja o elemento estruturante, e que adote práticas pedagógicas voltadas a conscientizá-los como classe trabalhadora, para que passem a perceber de forma crítica a realidade social em que estão inseridos. Dada a necessidade de impulsionar o processo de integração da política municipal de Educação de Jovens e Adultos com o enfrentamento ao trabalho escravo, é apresentada ao final da análise dos dados uma proposta de intervenção cujo objetivo é qualificar a atuação dos profissionais de educação municipal, especialmente os professores dessa modalidade, para abordarem nas práticas pedagógicas o trabalho como elemento estruturante da educação de jovens e adultos.