Religiosidade, espiritualidade e práticas de cuidado: as experiências de usuários de um centro de atenção psicossocial
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Resumo
A influência do campo religioso, nas práticas de saúde, se delineia a partir de uma fronteira porosa, cujas marcas e tensionamentos refletem inscrições e disputas por diferentes posições e práticas assistenciais. E mesmo com o distanciamento das explicações mágico-religiosas, em consequência do avanço científico e tecnológico, o vigor e a resistência da expressão religiosa das sociedades contemporâneas implicou na manutenção de sua força na determinação de condicionantes ético-valorativos ao processo de cuidado. Nesse sentido, esse trabalho investigou como a religião opera o pensamento e as referências que engendram o campo da saúde, em interlocução com o processo de cuidado. Como principal objetivo, almejamos compreender como as experiências religiosas/espirituais, vivenciadas por usuários de um Centro de Atenção Psicossocial, relacionam-se às práticas de cuidado, individuais e profissionais, bem como às percepções da saúde e da doença. Para o desenho metodológico, optamos por uma pesquisa de natureza qualitativa, elegendo a etnografia como paradigma da investigação. E, diante da sobreposição entre o cenário de pesquisa e de atuação profissional do pesquisador, a experiência etnográfica nos propiciou a transformação da vivência cotidiana em empiria, proporcionando reflexões e reconexões, entre as dimensões que interseccionam teoria e a vida. Tomando a observação participante como modo de trabalho, a utilizamos como uma disposição que buscou aprender com os interlocutores, mediante encontros e partilhas. Para o processo de análise dos dados, selecionamos a análise de discurso. Nossos principais referenciais teóricos foram compostos pelo pensamento de Asad, Das, Kleinman, Mol e Tavares. As cenas etnográficas apresentadas nessa pesquisa mostraram que, no contexto estudado, os interlocutores utilizaram práticas de cuidado biomédicas em conexão com aspectos de religiosidade/espiritualidade, diante de suas experiências de sofrimento e eventos do cotidiano. Outrossim, percebeu-se que eles se conectaram, a humanos e não humanos, reinventando práticas de cuidado e processos diagnósticos. Assim, foi possível identificar como as experiências religiosas/espirituais das pessoas podem contribuir para a produção e compreensão do processo de cuidado.