Esta pesquisa surgiu do seguinte questionamento: de que maneira os recursos fílmicos são agenciados para construir o personagem Travis no filme Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese? E parte da hipótese de que o personagem Travis é constituído como o arquétipo bíblico do Anjo Vingador, através das temáticas da violência e purificação, da estrutura da narrativa, da linguagem simbólica do filme e da representação audiovisual da subjetividade do personagem. Com este trabalho, objetivamos desenvolver um estudo sobre o personagem Travis, considerando a enunciação do arquétipo do Anjo Vingador em torno de sua personalidade, por meio de uma análise inspirada na Poética do Cinema, desenvolvida por Wilson Gomes, que estuda os recursos e estratégias de composição do filme a partir dos efeitos (cognitivos, sensoriais e emocionais) que a obra produz no apreciador. A primeira parte da monografia apresenta uma discussão teórica sobre os conceitos da personagem na literatura, no teatro e no cinema, utilizando os pressupostos de Aristóteles (2009), Antonio Candido (2009), Anatol Rosenfeld (2009), Décio de Almeida Prado (2009) e Paulo Emílio Sales Gomes (2009); relacionando-os com as reflexões sobre a narrativa e a linguagem cinematográfica, discutidas por Jacques Aumont (2006), Marcel Martin (2013), Laurent Jullier e Michel Marie (2009), Christopher Vogler (2006) e Luís Nogueira (2010). Posteriormente, observou-se a hipótese do arquétipo do Anjo Vingador, que se caracteriza pela sua vingança em nome Deus e do uso da violência como meio de purificação da humanidade, a partir dos textos da Bíblia Sagrada e de alguns elementos contextuais que se mostraram importantes. Na segunda parte, concentramos nosso olhar no exame dos mecanismos de composição do filme que edificam a enunciação do arquétipo de Anjo Vingador em torno de Travis, dentre eles a estruturação mítica do enredo, as metáforas fílmicas, os discursos apocalíticos e os pontos de vista subjetivos de Travis.