Esta pesquisa tem como objetivo compreender os motivos que levaram o jornal Diário de Notícias a visibilizar e desqualificar as práticas de cura ministradas pela médium Analia Ferreira dos Santos, apelidada como “Dona Analia”, moradora do bairro da Fazenda Garcia, Salvador, Bahia, entre os meses de março e abril de 1940. No curso da investigação, inquiriram-se quais as relações entre a grande visibilidade conferida à médium, em discursos que tentavam folclorizar e desqualificar as suas práticas de cura, e as pretensões do referido periódico em apoiar um processo de ordenamento da sociedade soteropolitana, de modo a adequá-la aos padrões de desenvolvimento desejados pelas classes dominantes da Bahia em 1940. Tal ordenamento se desenvolveu por diversas estratégias, entre elas ações nas áreas da educação e da saúde com a finalidade de apontar referências que julgava necessárias para educar o cotidiano das classes populares e com o propósito de promover a supressão de elementos e manifestações culturais que se consideravam indesejadas para o contexto local. Entre essas práticas, se incluíam as relacionadas ao espectro da cura, como as efetuadas por Dona Analia e adotadas por seus consulentes.