Com o objetivo de investigar como as práticas socioculturais exercidas nos espaços educativos de favelas podem contribuir na ressignificação do currículo escolares, a presente pesquisa foi desenvolvida no Colégio Estadual Helena Magalhães, no bairro do Beiru/Tancredo Neves. Composto por favelas, o bairro de origem quilombola e majoritariamente negro é, ao mesmo tempo, atravessado pelas potencialidades da sua diversidade sociocultural e pelos problemas estruturais marcados historicamente pela exclusão social de bases coloniais e capitalista. Reconhecendo a legitimidade dos saberes produzidos nos espaços favelares e as complexidades dos contextos em que os sujeitos destes saberes estão inseridos, a pesquisa dialoga com a concepção das Pedagogias de Favelas, a qual propõe a construção de perspectivas educacionais descolonizadoras-emancipadoras voltadas para a centralidade dos universos favelares nos currículos escolares de forma crítica, imbricadas nas diferentes lutas pela equidade social por meio de práticas pedagógicas combativas de quaisquer discriminações, sejam elas com bases raciais, de gênero, sexo, classe, etc.. Deste modo, o trabalho de natureza qualitativa, inserido nos campos da Educação em Periferias Urbanas, considerou os diferentes elementos linguísticos, sociais, culturais, teóricos e políticos ao longo da sua construção. Em seu percurso, a investigação buscou identificar as práticas socioculturais exercidas nos espaços educativos de favela; apreender seus elementos sócio-históricos; e analisar os currículos da escola de favela e os discursos manifestos das(os) professoras(es) com a finalidade de verificar aproximações e/ou não distanciamentos desses elementos. Para tanto, contamos com encontros em grupos focais com alunas(os) da escola, educadores sociais da região do entorno escolar e com professora(es) da própria escola. Por fim, comprovamos que existem profícuos entrecruzamentos do currículo escolar com as práticas socioculturais e elementos sociohistóricos das comunidades favelares, promovendo a aproximação entre os universos externos à escola e as salas de aula, reconhecendo e valorizando os elementos identitários da comunidade. Neste sentido, propõe-se a construção de currículos com propostas pedagógicas representativas da diversidade sociocultural que emerge nas favelas do Beiru/Tancredo Neves, alinhados com diferentes agentes sociais da comunidade local, comprometidos com a transformação social por meio de ações desenvolvidas coletivamente.