Este trabalho investiga os desafios enfrentados pelas escolas públicas de Salvador (BA) no acolhimento de crianças órfãs em decorrência do feminicídio, bem como as ações pedagógicas planejadas ou desenvolvidas para a construção de um ambiente escolar sensível ao luto. A pesquisa, de natureza qualitativa e caráter descritivo, foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com professoras e uma coordenadora pedagógica, analisadas a partir de chaves de leitura. A análise ancora se na reflexão com autoras Rita Segato (2005), Wânia Pasinato (2011), Kimberlé Crenshaw (2002), Carla Akotirene (2019), Cláudia Pons Cardoso, Zuleide Silva (2011), Maria Kovács (2012), Freire (1987), Jeane Félix (2015) e Silva (2005). Os resultados evidenciam que, o feminicídio revela uma realidade social marcada por desigualdades de gênero, raça e classe, a qual deixa os filhos e filhas das vítimas de feminicídio em situação de abandono emocional e institucional, principalmente os de mulheres negras, pobres e periféricas. A escola pesquisada, apesar da sensibilidade e empatia de suas educadoras, ainda carece de formação específica, rede de apoio e práticas pedagógicas estruturadas para lidar com o luto das órfãs e órfãos do feminicídio. Com isso, a ausência de políticas pedagógicas e o desconhecimento da lei 14.452/2022, que institui Campanhas de Empoderamento das Mulheres e Enfrentamento ao Machismo na rede pública de Ensino do Estado da Bahia, reforçam o silêncio. No entanto, ações pensadas pelas docentes, como literatura infantil e projetos interdisciplinares podem transformar a escola em um espaço de acolhimento e justiça, desde que com olhar interseccional e compromisso ético com a vida.