Esta tese insere-se no campo dos estudos sobre educação, diversidade e inclusão, com foco nas dinâmicas que permeiam o processo de escolarização de crianças no espectro autista. O estudo tem como objetivo analisar de que maneira a atuação da Rede Interfamiliar contribui para a permanência e a participação escolar de crianças no espectro autista no ensino regular. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, com delineamento de estudo de caso, desenvolvida em uma escola de Ensino Fundamental (séries iniciais) da Rede Municipal da Educação de Salvador. Contou com a participação de nove cuidadores principais das famílias — em sua maioria mães — de crianças no espectro autista, matriculadas na referida escola. A faixa etária desses participantes situa-se entre 30 e 47 anos, caracterizando um grupo com múltiplas responsabilidades familiares, sociais e profissionais. Em relação à inserção no mercado de trabalho, predominam vínculos informais ou ocupações intermitentes. O que os une é a experiência cotidiana e a busca coletiva por apoio, permanência e participação escolar para seus filhos. A pesquisa ancora-se em um campo epistemológico que articula os estudos sobre família, redes relacionais de solidariedade e inclusão escolar, estabelecendo diálogo com os debates contemporâneos sobre a reconfiguração da família frente aos desafios impostos por novas demandas sociais e emocionais, assim como o lugar da conexidade no processo inclusivo. A análise dos dados revelou quatro categorias centrais: reciprocidade como princípio estruturante, experiência compartilhada e construção de saberes, partilha de informações como estratégia de fortalecimento e os processos empáticos. Os achados apontam que, ao compartilhar experiência e produzir saberes, os familiares potencializam as condições de permanência e participação de suas crianças na escola, reafirmando a urgência de discutir políticas de inclusão que validem o lugar desses sujeitos na construção de uma escola equânime. Nesse contexto, a Rede interfamiliar emerge com uma dupla condição: símbolo e dinâmica da sociedade contemporânea. Como símbolo, representa a força da coletividade diante de ausências ou fragilidades de suporte parental, institucional ou social. Como dinâmica, atua concretamente na circulação de informações, no fortalecimento de vínculos afetivos e na reivindicação do acesso aos direitos, em especial na permanência e participação da criança no espectro autista na escola.