Na segunda metade do século XX, a América Latina foi impactada por instaurações de regimes ditatoriais, ações que marcaram significativamente a experiência histórica de muitos indivíduos que atuavam à época, como estudantes, militantes, artistas e religiosos. Na condição de exilados ou presos políticos a apropriação da narrativa epistolar transformou-se em uma espécie de refúgio. Fosse como meio de comunicação ou como forma de externar o conjunto de experimentações vivenciadas, as cartas dispõem de um conteúdo que revelam peculiaridades do momento histórico, informações e características que se situam em uma narrativa testemunhal do período, bem como, uma elaboração cotidiana que permite a constituição do sujeito historicamente. Nessa perspectiva, o objetivo do presente trabalho, é empreender uma análise das cartas produzidas por Caetano Veloso enquanto esteve na condição de exilado político em Londres, durante a Ditadura Civil-Militar no Brasil. Tendo como base teórica o conceito de ―escrita de si‖ de Michel Foucault e ―sentimento de si‖ de Vigarello, buscamos objetivar a produção dessas cartas enquanto constituição do sujeito e enfrentamento à Ditadura Civil-Militar.