Epidemiologia da sífilis congênita entre crianças expostas no período gestacional: um estudo na cidade de Salvador
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Resumo
Introdução: A sífilis é uma doença sexualmente transmissível que pode ser transmitida da mãe (não tratada, ou inadequadamente tratada) para o feto durante a gestação, resultando em uma condição conhecida como sífilis congênita. Crianças expostas a sífilis, são todos os recém nascidos de mulheres que tiveram diagnóstico de sífilis durante o pré-natal, foram adequadamente tratadas com penicilina benzatina, de acordo com o estágio clínico da doença, iniciado em até 30 dias antes do parto. Desse modo, o acompanhamento da criança exposta durante dois anos após o nascimento é crucial para evitar uma série de complicações, incluindo problemas neurológicos, deformidades ósseas e dentárias, surdez, cegueira e outras complicações graves, causadas pela sífilis congênita. Objetivo: Analisar a epidemiologia da sífilis em crianças cujas mães foram diagnosticadas com sífilis e adequadamente tratadas durante a gestação, no município de Salvador, no ano 2017. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico observacional, de corte transversal, com caráter descritivo, a partir de dados de secundários oriundos do Sistema de Informação de Agravo e Notificação (Sinan), no período de 2017 a 2019, na cidade de Salvador, Bahia. A identificação das crianças expostas foi realizada a partir das gestantes notificadas com sífilis no Sinan, módulo gestante, em Salvador, no ano 2017, que foram adequadamente tratadas, segundo critério do Ministério da Saúde: uso de penicilina benzatina, de acordo com o estágio clínico da doença, iniciado em até 30 dias antes do parto. A variável desfecho (sífilis na criança exposta) foi buscada no módulo sífilis congênita do Sinan, nos anos 2017 a 2019. Foi realizada análise descritiva (número e percentual) da variável desfecho e das variáveis maternas consideradas de exposição: sociodemográficas, clínicas, obstétricas e terapêuticas. A análise bivariada observou a distribuição das variáveis de exposição em relação a variável desfecho, estabelecendo-se o nível de significância estatística p≤ 0 05 a partir do teste quiquadrado, e para as variáveis com menos de cinco o observações, utilizou-se o teste exato de Fisher. A análise de dados foi realizada no Programa Stata® versão 16.0. Resultados: A prevalência de sífilis congênita entre crianças cujas mães tiveram diagnóstico de sífilis na gestação e foram adequadamente tratadas foi 25,27%. Dentre essas crianças, a prevalência da sífilis congênita foi maior entre aquelas cujas genitoras tinham idade de 20 à 29 anos (48,70%), de raça cor parda (47,83%) e preta (39,13%), com escolaridade fundamental incompleto/completo (39,13%), com diagnóstico no segundo trimestre de gestação (57,39%), cujos parceiros não foram tratados (53,91%). Em todas as formas clínicas, a maioria da gestantes foi tratada com a dose máxima de penicilina (7,2 milhões UI). A maioria das crianças foi assintomáticas (70,43%) e, dentre as que apresentaram sintomas (13 crianças) todas tiveram icterícia e duas tinham registro de anemia. Considerações finais: Em que pese a fragilidade da qualidade das notificações, evidenciadas pelo elevado percentual de exames não realizados e de outras informações ignoradas, que refletem uma importante barreira no conhecimento da real situação epidemiológica, o estudo ratificou que as características sociodemográficas influenciam diretamente na ocorrência de doenças evitáveis como é o caso da sífilis congênita. Desse modo, é crucial considerar além dos aspectos sociodemográficos das pacientes, as limitações estruturais do sistema de saúde que dificultam a realização de determinados exames, bem como o preenchimento adequado das informações nas fichas de investigação da doença.