Esta dissertação é um estudo dos efeitos da Segunda Guerra Mundial na Bahia, e em particular no povoado de Morro de São Paulo. A conjuntura de guerra consubstanciou a imediata iniciativa do Estado Novo no sentido de preparar uma retaguarda civil perfilada e alinhada ao ideário varguista. Os elementos dessa estratégia, veiculados maciçamente pela imprensa da época, faziam interseção com um contexto de infortunios e grandes dificuldades. O povo baiano, durante o período de 1942 a 1945, viveu intensamente a forte mobilização para o conflito e todos os seus agravantes. Os afundamentos de navios brasileiros em águas nacionais motivaram a população baiana, que, incentivada pela imprensa e por estudantes, exigia o estado imediato de beligerância. A forte mobilização, acompanhada de um panorama geral de escassez, especulação e carestia, tornou-se marca desse período na Bahia. Mas, a reação da população no povoado de Morro de São Paulo ganhou outros contornos. Os morristas vivenciaram de forma eminentemente particular os efeitos do conflito. Durante o período, o intenso tráfego de navios e oficiais da Marinha no lugar, bem como os dramáticos afundamentos dos navios "Itagiba" e "Arara" nas proximidades, contribuíram para a criação de uma atmosfera de medo e insegurança, comprometendo, por exemplo, atividades de subsistência como a pescaria em alto mar. Além do mais, as campanhas de racionamento, seguidas de manobras especulativas e um estado generalizado de carestia de vida castigaram de forma peculiar os nativos do Morro de São Paulo. Outrossim, a resistência do morrista às inúmeras dificuldades do período foi intimamente motivada pelo desejo coletivo de sobrevivência. A solidariedade, o apego à força das tradições, as alternativas de trabalho, os festejos fizeram o contraponto às dificuldades da época. A Segunda Guerra Mundial ficou marcada na memória dos moradores do Morro de São Paulo como referência de medo, insegurança, frugalidade e sobrevivência.