O discurso de ódio contra mulheres em comentários on-line: implicações para a educação das relações de gênero
Data
Autores
Orientador
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Esta pesquisa investiga o discurso de ódio (BRUGGER, 2007; SILVA, 2011) contra mulheres, no cenário contemporâneo brasileiro de violentas reações discursivas aos direitos de gênero recentemente conquistados. Esses discursos circulam em ambientes digitais de grande repercussão midiática (LEVY, 1999) e foram analisados em enunciações de comentários online encontrados em matérias jornalísticas sobre as repercussões de três acontecimentos polêmicos envolvendo questões de gênero relacionadas à sexualidade e à raça (SCOTT, 1999; FANON, 2008; GONZALEZ, 1984; BUTLER, 2003; CRENSHAW, 2002; AKOTIRENE, 2018): a vinda da filósofa Judith Butler ao Brasil em 2017, a PEC 181/2015 e a eleição de Monalysa Alcântara a miss Brasil 2017. Assim, a pesquisa objetivou compreender os efeitos de sentido produzidos pelos discursos de ódio contra mulheres em comentários online de matérias sobre acontecimentos polêmicos, relacionando esses discursos às demandas da formação da juventude e de professora(es), a fim de contribuir para a educação das relações de gênero em seu viés de raça e sexualidade. A investigação, de abordagem qualitativa e de base hermenêutica, foi inspirada metodologicamente nos estudos do discurso nas perspectivas da AD - Análise de Discurso, em Maingueneau (2015) e dos ECD Estudos Críticos do Discurso, em Dijk (2018). Como dispositivos de análise foram adotados as formações discursivas, as práticas discursivas e os interdiscursos (MAINGUENEAU, 2015; DIJK, 2017). A proposta de intervenção pedagógica se deu no segundo semestre de 2018, por meio do projeto de extensão "Lique seu raivômetro: discurso de ódio não é opinião", realizado com estudantes do ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), do Colégio Felicidade e do Colégio Modelo, na cidade de Jacobina-BA. Como produtos da pesquisa, foi realizado um mini documentário sobre o projeto de extensão e se encontra em fase de desenvolvimento um Recurso Educacional Aberto (REA) - "raivômetro", que se constitui em metodologia de ensino e aprendizagem e em ferramenta interativa para sinalizar graus de intolerância dos discursos, levantar dados sobre a vulnerabilidade das vítimas, possibilitar e visibilizar contranarrativas. Como conclusões da pesquisa, apresentamos o funcionamento e as propriedades do discurso de ódio contra mulheres nos comentários analisados: além de uma prática discursiva de amplo lastro social, o discurso de ódio contra mulheres configura-se em uma formação discursiva composta principalmente pelos interdiscursos da nova direita brasileira, fundamentalista cristão, científico, patriarcal e eugenista. A ampla repercussão, a aderência social do discurso de ódio e a crescente vulnerabilidade das mulheres brasileiras, confirmam a necessidade do tema ser apropriado pela escola para possibilitar que professoras(es) e jovens analisem o poder desses discursos, encontrem suas fissuras, e que conheçam, criem e reverberem contra narrativas.