Percursos da oralidade e letramento na comunidade de saquinho, municipio de Inhambupe, BA
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Resumo
Esta pesquisa enfoca as narrativas de histórias de vida de quatro idosos, na faixa etária de 69 a 114 anos, residentes de uma comunidade rural – Saquinho – no interior da Bahia. Trata-se de pessoas consideradas “iletradas” devido ao baixo nível de escolaridade, com ascendência negra e que exercem funções de liderança popular na comunidade. Compreendemos que esses sujeitos representam a memória coletiva dessa comunidade, pois através dos seus relatos de vida pessoal eles nos contam sobre a origem do povoado, as famílias que ali se instalaram em tempos remotos, as histórias passadas pelos seus pais e avós as quais revelam mitos, valores e crenças construídos na vida cotidiana. Cada um desses protagonistas traz sua participação efetiva na vida social da comunidade: D. Catarina, 114 anos, parteira por mais de 40 anos; D. Vitória, 69 anos, tornou-se uma rezadeira de prestígio; Sr. Zé de Rufino, 79 anos, preserva a plantação de bananeiras como o legado deixado pela sua família e que se constitui no patrimônio territorial de respeito aos bens da natureza; Sr. Zé de Dudu, 89 anos, um líder que casou com a filha de um ex-dono de escravo. Do extenso material registrado na pesquisa, contendo narrativas lúcidas que envolvem vários tópicos da história de vida pessoal e coletiva, pode-se perceber que as histórias de vida contadas por esses idosos testemunham fatos, acontecimentos vividos em Saquinho em um amplo período de tempo, elementos que constituem um patrimônio cultural dessa comunidade e que se preserva através da tradição oral. Nesse sentido, ressaltamos a importância da tradição oral associada à preservação dos saberes locais e apontamos a ausência desses conteúdos da vida local nas práticas pedagógicas das escolas ali situadas. Por outro lado, investigamos a intervenção do letramento nas experiências de vida narradas por esses sujeitos ditos ‘iletrados’: são vários os episódios em que se deparam no convívio com eventos de letramento produzindo acertos e desacertos; verificamos o papel da leitura e da escrita na formação da identidade social. Utilizamos a metodologia da história oral (MEIHY,1994,2005,2007), destacando a importância da tradição oral e saberes locais na formação sociocultural de comunidades rurais (CERTEAU,1996; ZUMTHOR,1993,2000),e discutimos sobre as práticas de letramento escolar e o seu distanciamento com a realidade cultural da comunidade (ARROYO, 2003, 2005; MARCUSCHI,2001a, 2001b ; MOTA, 2002, 2004, 2006; KLEIMAN, 1995; STREET, 1984; SOARES, 2000,2004). Os dados coletados e analisados trazem um valioso conjunto de textos que contribui para uma reflexão sobre a interação escola e comunidade, assim como uma avaliação sobre os currículos escolares em comunidades rurais.