Este estudo propõe-se a analisar a obra Torto Arado (2019), de Itamar Vieira Junior, observando como a religiosidade de matriz africana, representada pelo Jarê, é usada para resgatar a memória e a resistência identitária das comunidades quilombolas. A obra destaca a narradora Santa Rita Pescadeira, que desempenha um papel significativo como voz mediadora entre o passado e o presente, resgatando histórias de resistência e conexão espiritual com a ancestralidade. A partir da narrativa do Jarê, a personagem apresenta a manifestação religiosa que inclui atividades mediúnicas e de cura, mostrando que não é apenas um elemento folclórico, mas uma atividade de resistência cultural, permitindo às comunidades quilombolas preservar suas tradições e valores diante das adversidades e tempo. Adotou-se uma abordagem exploratória e interdisciplinar para a análise do romance, com a realização de uma revisão bibliográfica abrangente de textos acadêmicos sobre literatura negra, religiosidade de matriz africana e resistência cultural, o que possibilitou uma compreensão mais profunda das complexidades da narrativa. A metodologia interdisciplinar integra perspectivas de áreas como literatura, antropologia e história, proporcionando uma análise detalhada das intersecções entre práticas religiosas, identidade negra e resistência cultural no Brasil. O foco da pesquisa recai sobre a personagem narradora Santa Rita Pescadeira, analisando como sua narrativa no Jarê funciona como uma forma de enfrentamento às opressões e como a religião de matriz africana é utilizada como meio de afirmação identitária. Este estudo é relevante por contribuir para o reconhecimento do papel da religiosidade de matriz africana enquanto prática de resistência na literatura negra contemporânea, ampliando as discussões sobre representatividade e os diálogos culturais presentes na obra de Itamar Vieira Junior.