"Pretendemos ensinar bem os moços [...] aprendendo pouco a pouco a lingua para que entremos pelo sertão dentro": Gestão das línguas e as relações de ensino na América portuguesa (1549-1560)
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Resumo
Desde a chegada dos portugueses à América, a língua portuguesa vem sendo introduzida nas terras “descobertas” desse lado de cá do Atlântico Sul. Nesses primeiros séculos da conquista e colonização, podem-se observar os contatos linguísticos do português com as línguas indígenas, africanas e, mais para meados do século XIX, as de imigração, além das interferências advindas da atuação da Companhia de Jesus, até meados do século XVIII. Fundamentando-se na História Social Linguística do Brasil em diálogo com a História Social da Cultura Escrita, essa monografia tem como objetivo apresentar uma análise da atuação dos jesuítas nos primeiros anos de missão catequética, bem como o funcionamento da gestão linguística durante este período e as relações de ensino havidas na América portuguesa, através de sistematizações de documentos presentes na obra intitulada de Cartas do Brasil (1549-1560), que constituiu o corpus da pesquisa. Para análise da documentação, foi-se utilizado o método indiciário, proposto por Ginzburg ([1989] 2014) e leituras e interpretações a contra, nos termos de Benjamin ([1940] 2012). O aporte teórico desta pesquisa parte das questões discutidas por Mattos e Silva (1998, 2004), Souza (2019), Saviani (2013), Calvet (2007), entre outros. A partir da análise documental, constatou-se como ocorreram os primeiros contatos dos povos originários da costa com os falantes da língua portuguesa através do ensino da doutrina cristã, da leitura e da escrita, além disso mapearam-se outras práticas de políticas e de planejamento linguístico, como a construção dos primeiros colégios jesuíticos, o uso de intérpretes para mediar os primeiros contatos e a atuação de mulheres, órfãos e mamelucos nos processos de instrução. Dessa forma, com esse trabalho, caminhos são abertos para uma maior compreensão dos processos linguísticos e educacionais que estão na gênese da formação do português brasileiro e das relações de ensino no Brasil.