Processos educativos formais e não formais na constituição das identidades quilombolas: o caso do Kaonge
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Resumo
A pesquisa apresentada busca construir interpretações acerca dos processos e práticas educativas constituintes das identidades quilombolas na comunidade negrorural-quilombola do Kaonge. A presente investigação pretendeu atender aos objetivos de: i) identificar elementos na educação formal e não formal, numa comunidade quilombola, que colaboram para a afirmação destas identidades, assim como ii) analisar a contribuição da educação formal no processo de construção da identidade quilombola; iii) conhecer as práticas pedagógicas e as condições de ensinagem ↔ aprendizagem realizadas pela Escola Municipal do Kaonge e iv) investigar os processos de transmissão↔manutenção da cultura e linguagens africano-brasileiras como instrumento de afirmação das identidades quilombolas. Para esta investigação, fez-se o uso da etnopesquisa crítica (MACEDO, 2004), também conhecida como abordagem do tipo etnográfico (ANDRÉ, 1995). Esta, por sua vez, é inspirada na etnografia que tanto pode significar “descrição densa” (GEERTZ, 2011), “descrição cultural” (ANDRÉ, 1995,) quanto “descrição de um povo” (AGROSINO, 2009). As técnicas utilizadas passaram pela observação participante (MINAYO, 2012), (LÜDKE; ANDRÉ, 1986), (AGROSINO, 2009), entrevistas semi-estruturadas, que ajudaram a “documentar o não-documentado” (ANDRÉ, 1995), a escuta sensível (BARBIER, 2002), que se mostrou eficaz e eficiente permitindo que as interpretações fossem levantadas segundo o que foi narrado pelo interlocutor, em dada situação discursiva e, por fim, anotações no caderno de campo. A coleta de dados, também, se deu a partir de análise de documentos, desde os elaborados pelo INCRA, passando pelo Projeto Político Pedagógico da escola, pelo Currículo Oficial e a matriz curricular, até os Projetos de unidades letivas. No que se refere a educação não formal, a análise passa pelos Projetos de monitorias e oficinas (de teatro, músicas, vídeos etc.). Além destes, foram feitas análises de documentários sobre os festejos religiosos produzidos pela TV UFBA. A pesquisa apontou que as aprendizagens acontecem em distintas situações da vida comunal dos quilombolas. No entanto, os processos e práticas educativas não formais contribuem efetivamente para a construção das identidades quando comparada com a educação formal. Os festejos religiosos, as atividades político-educativas, principalmente as oficinas de teatro, dança e vídeos são importantíssimas para o debate das realidades locais, formação de novas mentalidades, orientações para se propor uma educação antirracista e mais equânime. Embora a educação formal dialogue, em vários momentos, com a cultura local, a escola precisa repensar seu currículo com vistas a atender as diretrizes de uma educação escolar quilombola, na perspectiva de refletir cotidianamente as questões locais. Certamente, a presença de uma Matriz e/ou diretriz(es) escolar quilombola direcione os processos, ações e práticas escolares de forma mais efetiva com as realidades quilombolas desse Brasil- quilombola. Logo, é importante que a Secretaria de Educação do Município ofereça estudos continuados, qualificação, formação docente e material didático apropriado, com vistas a oportunizar aos docentes interação entre os conteúdos escolares e as realidades das comunidades quilombolas.