Os discursos legitimadores da violência contra as mulheres em Jacobina (1980-1990)
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Resumo
Apresenta uma pesquisa histórica sobre a violência contra as mulheres em Jacobina, na década de 1980, e como essa violência foi tratada pela sociedade e pelas instituições jurídicas da época. A autora narra como o interesse pelo tema surgiu de experiências pessoais, incluindo um episódio de violência doméstica que presenciou em sua juventude e o contato com casos de violência no ambiente de trabalho, em um escritório de advocacia. Esses acontecimentos despertaram sua curiosidade sobre as formas de legitimação da violência contra as mulheres e as relações de poder entre homens e mulheres, especialmente nas esferas policial e judicial. A pesquisa foca na análise de documentos oficiais como boletins de ocorrência, inquéritos policiais e processos judiciais, com o objetivo de compreender como a violência contra as mulheres era tratada pela justiça e pela sociedade. Ela destaca que, durante a década de 1980, a sociedade ainda se mantinha omissa em relação ao problema, especialmente no que diz respeito à violência doméstica. Naquela época, a legislação brasileira não tratava adequadamente os crimes de violência contra as mulheres, considerando-os apenas como crimes contra os costumes, como o estupro. Foi somente no final da década de 1980 que começaram a surgir políticas públicas para enfrentar essa violência. A análise dos documentos revelou que casos graves de violência contra as mulheres frequentemente eram ignorados ou relegados ao esquecimento, com a justiça frequentemente culpabilizando as vítimas ou tratando os agressores de forma brandamente. A autora destaca, por exemplo, o caso de um julgamento de estupro de uma menina, no qual a defesa e a promotoria se concentraram na conduta da vítima, questionando sua virgindade, em vez de focar no crime em si. A metodologia utilizada para a pesquisa foi a análise do discurso, seguindo a perspectiva de Eni Puccnelli Orlandi. Para a autora, o discurso é uma prática social que reflete as ideologias e relações de poder em um dado contexto histórico. Ela argumenta que as relações de violência contra as mulheres foram legitimadas por um discurso masculino dominante, que estabeleceu verdades sobre a subordinação das mulheres, mas que essas relações de poder podem ser transformadas ao longo do tempo por meio da luta das mulheres e da mudança dos discursos. A autora também faz uma reflexão sobre a história social, que se distanciou da historiografia tradicional centrada nos grandes feitos e personagens, para se preocupar com as histórias dos grupos marginalizados, como as mulheres. Ao adotar essa abordagem, a pesquisa busca dar voz tanto às vítimas quanto aos agressores, analisando as fontes e os discursos de poder que moldaram as relações de gênero e de violência ao longo do tempo.