Ser e não ver/ver e não ser: a questão racial e o silêncio no colégio estadual de Junco
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Resumo
Este texto apresenta os resultados da pesquisa desenvolvida no âmbito do Colégio Estadual de Junco, que buscou investigar o silêncio pedagógico e institucional sobre os temas relacionados às questões étnico-raciais em seu espaço e a relação deste silêncio na percepção da identidade racial dos alunos que compõem sua clientela, através de um estudo de caso utilizando os instrumentos e técnicas da etnometodologia e da pesquisa participante, bem como a pesquisa documental. Constatamos através dos discursos do alunado, presentes em questionários de pesquisa, que existe realmente uma ausência desses temas nas ações do Colégio, e que a situação do aluno afrodescendente não é levada em consideração dentro do trabalho pedagógico do CEJ. Tal situação, também verificada nos documentos institucionais, nos leva a afirmar que a Lei 10.639\03 não se efetiva na unidade, colaborando para que situações de discriminação e preconceitos ainda sejam veiculadas através de discursos e silêncios no espaço escolar, contribuindo para o processo de negação desses alunos acerca de sua própria identidade. Buscamos, no texto, apresentar revisão bibliográfica ancorada em pesquisas e autores que discutem as relações étnico raciais como Munanga (1994, 1996, 2004) Gomes (2003, 2005), Cavalleiro (2003, 2005), os processos de reconhecimento da identidade cultural com Hall (2003,2004), Ferreira (2009) ,e os conceitos de cultura escolar como Barroso (1996), Viñao Frago (2000) e Julia (2001) buscando a compreensão de como se elaboram e sistematizam as construções sobre as diferenças raciais, e, de que forma são representadas no espaço escolar, as contribuições da população e da cultura negra na formação do país. Pretendemos, dessa forma, articular as noções de identidade racial dos sujeitos com a percepção do espaço da escola como território de construção de representações e identidades coletivas. Entendemos o espaço do Colégio Estadual de Junco, como um organismo único, que recebe e reproduz, através de seus alunos, o todo cultural no qual se insere e, percebemos que o discurso isonômico muito interfere no complexo processo de construção das identidades e nas relações estabelecidas entre os sujeitos. Acreditamos que, a partir deste trabalho, teremos possibilidade de colaborar com uma nova postura política diante da questão racial no lócus da pesquisa, contribuindo com a efetivação das Leis 10.639\03 e 11.645/08, na medida em que trazemos ao espaço escolar a visão plural diante da questão racial, e a compreensão dos desdobramentos desta com as questões sociais, culturais, históricas e políticas de nosso alunado.