Práticas de gestão do conhecimento científico em grupos de pesquisa da UNEB: análise das ações de produção e difusão do conhecimento

Resumo

No contexto da universidade pública brasileira, os grupos de pesquisa figuram como instâncias importantes que assumem ações de produção e difusão do conhecimento científico. Apesar das suas contribuições, recentemente, entre 2016 e 2022, além dos desafios do cenário pandêmico, as universidades públicas sofreram com ações de desmonte por parte do governo federal, efetivadas com o corte de recursos e com discursos que associaram a universidade a um estorvo. A partir deste contexto e somado às experiências pessoais como professor, pesquisador e gestor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – maior instituição pública de ensino superior multicampi da Bahia –, e diante do considerável aumento de grupos de pesquisa nesta instituição, nos motivamos a analisar nesta tese como se realizam as práticas de Gestão do Conhecimento Científico (GCC) em grupos de pesquisa da UNEB, tendo em vista suas ações de produção e difusão do conhecimento. Para isso, estabelecemos como objetivos específicos: discutir a GCC por meio de correlações teóricas entre a Gestão do Conhecimento (GC) e a Comunicação Científica (CC), considerando as dinâmicas do campo científico; avaliar, junto aos grupos de pesquisa participantes, notadamente a partir de seus líderes, suas ações de produção e difusão do conhecimento à luz das categorias teórico-analíticas discutidas sobre a GCC e sistematizar processos de ideação, tendo em vista fatores intervenientes identificados, mediante participação dos sujeitos da pesquisa, sobre práticas de GCC em grupos de pesquisa. Para tanto, nos posicionamos a partir da epistemologia crítico-dialética e discutimos a GC a partir dos modelos SECI de Takeuchi e Nonaka e da GC na gestão pública de Batista; as condições capacitantes (ba) para a criação do conhecimento; práticas de GC e a GCC a partir da noção bourdieusiana de campo científico e das modalidades de CC. Esse passo nos conduziu a categorias analíticas para construção dos instrumentos de produção de informações. Metodologicamente, inscrevemos a pesquisa como de tipo social, de abordagem qualitativa e de nível exploratória e explicativa. A partir de dados institucionais, delimitamos os lóci e sujeitos da pesquisa no universo de 252 grupos certificados e, amparados em uma amostragem não estatística representativa embasada na teoria dos campos científicos, identificamos 46 grupos ligados aos Programas de Pós-graduação Stricto Sensu da UNEB, dentre os quais selecionamos, a partir da busca de produtividade dos líderes, 12 grupos, dos quais 10 participaram efetivamente. Nesta etapa, delimitamos como modos de produção e análise de informações a pesquisa documental, entrevistas semiestruturadas, a participação observante e círculos de estudo, tendo em vista os recursos da pesquisa participativa. Dentre os resultados obtidos, destacamos que: a) as práticas analisadas remetem a uma abordagem sistêmica e multifatorial da GC; b) a normatização sobre os grupos de pesquisa na UNEB apresenta-se difusa e tende a replicar parâmetros das agências de fomento; c) os processos de conversão do conhecimento são correlacionais, sendo a internalização mais sensível às outras modalidades; d) as práticas de GCC se aproximam dos princípios da GC na gestão pública e de modelos de CC que visam à participação pública na ciência; e) a GCC está intimamente relacionada com os diversos tipos de ba; f) é possível verificar, nas práticas de GCC dos grupos, elementos do campo científico. Ao fim, fizemos proposições em torno de eixos sobre a atuação e dinâmicas internas dos grupos; suas dinâmicas relacionais com diversos agentes; compartilhamento e tratamento de informações; infraestrutura e tecnologias e vida funcional do pesquisador, visando contribuir para aprimorar as práticas de GCC dos grupos de pesquisa da UNEB e, eventualmente, de outras instituições. Assim, consideramos que o percurso realizado reiterou a tese de que a compreensão das práticas de GCC em grupos de pesquisa implica pensar em suas ações de produção e difusão do conhecimento por meio das interrelações entre a GC e a CC, também consideradas a partir da noção de campo científico, mas não restritas às suas lógicas internas.


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SAMPAIO, Tiago Santos. Práticas de gestão do conhecimento científico em grupos de pesquisa da UNEB: análise das ações de produção e difusão do conhecimento. Tese (Doutorado em Difusão do Conhecimento). Universidade do Estado da Bahia, Camaçari, 2024.
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