As linhas que se seguem foram escritas com a finalidade de investigar o “Show do Encontro”, que é o nome atribuído ao primeiro espetáculo juntos de Caetano Veloso e Chico Buarque, que eram nos anos de 1960 dois ídolos marcados pela rivalidade de empebistas e tropicalistas, e é justo por isto que se consagra como uma espécie de símbolo da reconciliação dos artistas. A apresentação aconteceu no Teatro Castro Alves (TCA), situado na cidade de Salvador, capital baiana, entres os dias 10 e 11 de novembro de 1972, em meio à outra grande tensão, pois para além de rivais históricos ambos eram vistos como subversivos pelo governo militar, visto que dividia o mesmo palco um ex-preso político e um dos artistas mais censurados no Brasil, e que haviam retornado ao país após viver experiências distintas no exílio político. Há poucos anos foi descoberta uma documentação até então sigilosa a qual possuímos acesso em que agentes do regime civil-militar brasileiro trocam toda sorte de informações que revelam que existiram episódios que feriam a moral das famílias que estavam ali presentes e a legislação censória vigente, assim transformando o espetáculo em alvo de severas represálias. Em vista disso nos propusemos a uma investigação com o objetivo de entender como o “Show do Encontro” acabou representando uma ameaça à política e aos padrões morais e comportamentais vigentes na ditadura civil-militar brasileira, por conseguinte, desencadeando todo um processo de censura ao show, aos artistas e as canções que foram por eles exibidas. Então, os pressupostos teóricos e metodológicos mais adequados à condução da pesquisa são os da História Cultural, mais precisamente os conceitos “representação” e “tática” respectivamente de Roger Chartier e Michael de Certeau, dado que possuímos os objetivos de entender como foi forjada a representação do show enquanto uma ameaça ao governo militar, assim como identificar quais foram às táticas de resistência que os artistas se valeram, visto que possuíam uma margem de manobra limitada devido ao cerco montado pela censura. A metodologia mais apropriada, portanto é a Micro-História, da qual Carlos Ginsburg é um dos principais precursores, uma vez que o “Show do Encontro” será entendido como índice da investigação.