Etnicidade e Educação: formação docente sobre os povos ciganos na Escola Municipal Agnaldo Marcelino Gomes.
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Resumo
Crianças, jovens e adultos ciganos têm sido invisibilizados no âmbito escolar, porque suas particularidades e singularidades não são reconhecidas e incluídas nas práticas educativas escolares. Do cerne desta problemática, a presente pesquisa teve como objetivo compreender como a formação/ação dos professores e demais profissionais da Escola Agnaldo Marcelino Gomes, localizada no bairro de Catuaba em Jacobina-BA e onde a comunidade cigana da Etnia Calon está sedentarizada desde fins de 1990 e início dos anos 2000, pode contribuir para o empoderamento de crianças e jovens ciganos em igualdade de condições com os não ciganos. O estudo está ancorado no Paradigma Interpretativo de Abordagem Qualitativa, pautado no pressuposto da epistemologia Crítico-Dialética, caracterizando-se como uma pesquisa do Tipo Exploratória, pela inexistência de pesquisas científicas em educação que articulem cultura (s) cigana (s) a um processo formativo para professores e demais profissionais de educação da referida escola, nem tampouco em Jacobina-Bahia e região. A pesquisa empírica apresentou três etapas, a saber: análise documental de projetos didáticos e do Projeto Político Pedagógico da escola, a fim de identificar (ou não) ações pedagógicas referentes à cultura cigana; realização de escuta sensível da comunidade cigana (pais e lideranças), através de entrevistas semiestruturadas, com o intuito de se perceber as representações sociais dessa comunidade sobre a educação escolar, e entrevista com os profissionais de educação (agentes/técnicos, coordenadores, gestores e professores) acerca das representações sociais destes sobre os povos ciganos, bem como a respeito da formação docente e prática pedagógica desenvolvida na escola. Através da pesquisa empírica, constataram-se várias lacunas, dentre elas: ausência de uma organização do trabalho pedagógico articulado ao Projeto Político Pedagógico; representação da comunidade cigana (pais e lideranças ciganas) sobre a educação escolar, que se volta para a personificação da confiança nos profissionais de educação e pela proximidade geográfica entre escola e comunidade; construção voluntária ou involuntária do medo nos ciganos, como ferramenta simbólica para orientar práticas culturais, e relativa representação da educação escolar como possibilidade de empoderamento; reconhecimento dos profissionais de educação da necessidade de formação continuada sobre diversidade e cultura cigana e do espaço escolar se transformar num lugar para a construção de novas representações sobre os ciganos com base na convivência com os mesmos, bem como práticas pedagógicas ainda pautadas em trabalhos pontuais e celebratórios. Os achados aqui expostos serviram de fundamentos para construção colaborativa e execução de processo formativo através de oficinas formativas, com três temas básicos: Cultura, Diversidade, Povos Ciganos e suas especificidades, este de maior centralidade. Das oficinas formativas, emergiu como produto o Projeto didático-pedagógico - Uma caravana de mão dupla: entrelaces formativos entre Escola Municipal Agnaldo Marcelino Gomes e comunidade cigana da etnia Calon. Agregando os dados empíricos à experiência com as oficinas formativas, os profissionais de educação e a comunidade cigana sinalizaram pela continuidade do processo formativo, pois nenhuma mudança que envolva os povos ciganos passa pelo nível do indivíduo, mas pela força do grupo e da família/comunidade.