Ecos de palavras-imagens: o índio no discurso de intelectuais baianos nos 400 anos do Brasil
Data
Autores
Orientador
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Este trabalho se propõe a analisar e problematizar o discurso sobre índios emitido pelos intelectuais baianos do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia – IGHBa no ano de 1900, quando ficaram responsáveis pelas comemorações dos 400 anos do Brasil e construíram a imagem discursiva do índio num contexto de fim de século, de mudanças políticas com o término do governo de Luís Vianna, do fim da guerra de Canudos e de influência das teorias raciais. Entre as referências que marcam este discurso, tem-se a projeção de uma imagem idealizada do índio com forte traço romântico, localizado no passado, mais exatamente no início da colonização brasileira e em vias de extinção. Serviram como fontes principais para a análise desse discurso o romance-histórico Pindorama, de Xavier Marques, e o relatório Estudos sobre a Baía Cabrália e Vera Cruz, do major Salvador Pires Carvalho e Aragão, produzidos sob a égide das comemorações do quarto centenário de descobrimento do Brasil. Nesses livros, nos jornais de maior circulação na época e nas revistas do IGHBa, identifica-se o enunciado da miscigenação como uma preocupação que poderia comprometer o futuro projeto de uma sociedade monorracial branca na Bahia, tornando a presença de mestiços, negros e índios uma questão social para a qual os intelectuais deveriam indicar a solução. Diante deste enunciado a imagem-discursiva do índio é um misto de mito da nacionalidade, produzido pelos literatos românticos de meados do século XIX, atualizado com os pressupostos raciais que entendiam a miscigenação como degeneração racial. Para instituir a identidade indígena, os intelectuais utilizam textos produzidos no período inicial da colonização brasileira, como a carta de Pero Vaz de Caminha em que pressupõem encontrar as características para identificar os índios, que o olhar contemporâneo de final de século deveria reconhecer. Contam, também, com o pressuposto da teoria evolucionista, segundo o qual o processo de desaparecimento dos índios era uma lei da natureza para os povos que não acompanhassem o progresso modelado na Europa. Com a instrumentação da metodologia da análise de discurso, buscou-se, nesta dissertação indicar como esse discurso de final do século XIX projetou, na memória social brasileira a invisibilidade do índio, a crença de seu desaparecimento, o reconhecimento da identidade indígena que foi atribuída pelos intelectuais. Sob signo de final de século, os intelectuais baianos projetaram uma imagem do índio com traços físicos e culturais estereotipado, com um lugar no passado da história do Brasil, portanto distanciando o índio no espaço e no tempo, onde pretendiam que tivesse permanecido. Tentou-se ouvir os ecos dessa projeção, entendendo que desvendar esse discurso pode-se chegar as práticas como o não reconhecimento do índio que não corresponda à imagem-discursiva que associa fenótipo enfeitado de penas, arco e flecha, como sendo lugar de índio as matas ou lugares distantes das cidades do País, e a perspectiva de extinção do índio.