A presente dissertação tem como pretensão analisar como saberes contidos na ancestralidade e na oralidade relacionados com as trajetórias de mulheres negras de candomblé, contribuindo para uma prática pedagógica de uma educação desobediente. A questão central da pesquisa Xirê Educacional: Escrevivências de Práticas Pedagógicas Desobedientes de Mulheres Negras no Candomblé parte da necessidade de compreender os aspectos educacionais elaborados por mulheres negras do candomblé, como promotoras de processos pedagógicos diferentes das práticas pedagógicas escolarizadas, colaborando para a valorização cultural e identitária afro-brasileiras, além da difusão do aparato sócio-histórico e cultural de pessoas negras ancorados na ancestralidade negro-africana. A investigação tem como centralidade metodológica e epistemológica a escrevivência, enquanto método da ação do saber oral e da escrita, sendo encontrada nos ensinamentos de mulheres negras dos terreiros de candomblé. Isso perpassa pelas suas vivências ancestrais e práticas educacionais, com um modelo civilizatório baseado na ética da coexistência. A pesquisa foi iniciada a partir da história de vida de Dona Gildeth Argolo da Silva, minha vó, conhecida como Dona Detinha, tendo em vista os seus saberes decoloniais contra o modelo hegemônico patriarcal eurocentrado. A escrevivência foi revelada também por meio da coleta de dados da história de vida dela e nos relatos de experiências de outras mulheres negras de candomblé. O presente trabalho reconhece o processo educacional e os valores dos nossos ancestrais negro-africanos e indígenas, priorizando mulheres negras de candomblé como protagonistas dessas trajetórias e guardiãs da memória ancestral. Este movimento busca o enfrentamento do racismo religioso e a disseminação do respeito à diferença, enaltecendo a criação de aspectos educacionais, culturais e sociais que são socializados e preservados nos espaços de terreiro de candomblé.