Estudo sobre os fatores associados a sífilis congênita na América Latina e no Estado da Bahia, Brasil
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Resumo
Introdução: A sífilis congênita (SC) é causada pela infecção materna com o Treponema pallidum, transmitido para o feto por via placentária, ou durante o parto, se a gestante não for tratada adequadamente. Apesar de ser uma doença com medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento disponíveis no Sistema Único de Saúde, e da elevada cobertura da assistência pré-natal na Atenção Primária em Saúde (APS), somente em 2019, foram notificados no Brasil 24.130 casos e 173 óbitos da doença que correspondem, respectivamente a 8,2 casos/1.000 nascidos vivos e 5,9 óbitos/100.000 nascidos vivos. Diante de tal magnitude, estudos que aprofundem o conhecimento sobre a permanência desse agravo em nosso meio são importantes, uma vez que podem contribuir para fortalecer as ações para o controle desse agravo. Nessa direção, dois estudos e um produto técnico foram elaborados para compor esta Dissertação. Objetivos: Artigo 1) Identificar os fatores associados a ocorrência da SC na América Latina, entre os anos de 2011 e 2022; Artigo 2) analisar os fatores associados a mortalidade fetal e infantil por sífilis congênita no Estado da Bahia, no período de 2011 a 2020; 3) Produto Técnico: elaborar uma cartilha sobre vigilância do óbito infantil e fetal voltada para profissionais de saúde, a fim de qualificar as investigações. Metodologia: Realizou-se uma Revisão Sistemática (RS) guiada pelo PRISMA, com os critérios de elegibilidade baseados no PECOS, sendo incluídos estudos observacionais indexados nas bases de dados MEDLINE; LILACS; SCOPUS e publicadas entre 1 de Janeiro de 2011 e 30 de Junho de 2022, que demonstrassem medidas de associação (OR ou RR ou RP). No segundo artigo foi desenvolvido um estudo transversal, sobre óbitos por SC em municípios baianos, no período de 2011 a 2020, a partir do linkage não-determinístico dos bancos de dados Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Foi realizada distribuição percentual das variáveis consideradas independentes (características sociodemográficas e de acesso ao pré-natal das mães dos conceptos que foram a óbito por SC) e da variável desfecho (óbito infantil/óbito fetal), seguida da análise da associação bruta (p ≤ 0,20). Na análise multivariada obteve-se a medida de associação ajustada, utilizando a técnica backward e considerando p ≤ 0,05 como nível de significância estatística. A construção do Produto Técnico foi baseada nos principais erros de preenchimento, ou ausência de informações, das fichas de investigação do óbito infantil recebidas no Comitê de Investigação do Óbito Fetal e Infantil do Núcleo Regional de Irecê. A partir deste diagnóstico, de maneira didática e ilustrada, a autora demonstrou-se como preencher a ficha de investigação, destacando os pontos considerados mais críticos, a fim de popularizar esse instrumento de investigação entre os profissionais de saúde que atuam na vigilância do óbito. Os estudos aqui produzidos fazem parte de um projeto maior intitulado “Sífilis em mulheres em idade fértil e sífilis congênita na Atenção Primária em municípios baianos” aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNEB, parecer No 4.324.340 em 07/10/2020. Resultados: A RS demonstrou que, na América Latina, no período de 2011 a 2022, os estudos publicados apontaram que a ocorrência da SC está associada a um perfil de mulheres socialmente mais vulnerável (pretas, jovens, com baixa escolaridade). Quando observado os fatores associados ao óbito infantil/óbito fetal causado por SC no estado da Bahia, observou-se resultado semelhante ao da América Latina, uma vez a chance de óbito em período fetal foi maior entre gestantes mais jovens (OR 12,98) e com baixa escolaridade (OR 3,39). Por outro lado, ter realizado sete ou mais consultas pré-natal reduziu a chance de ocorrência desse desfecho (OR 0,40). Conclusão: O impacto da sífilis congênita é maior em filhos de mulheres socialmente mais vulneráveis. Espera-se que resultados encontrados possam contribuir para a pauta de discussão de políticas públicas embasadas nas condições que potencializam a ocorrência de casos e óbitos fetais por sífilis congênita. Considera-se imprescindível que haja forte intervenção governamental nas condições de vida dos grupos populacionais apontados, a fim de viabilizar o controle e a eliminação da sífilis em países da América Latina. Por fim destaca-se que a elaboração do produto técnico se apresenta como uma colaboração para a qualificação dos dados e informações produzidas nos serviços de saúde, contribuindo para a redução da mortalidade infantil em níveis locais.