A presente dissertação pretende apresentar os resultados de uma pesquisa-intervenção na comunidade Quilombola do Engenho da Ponte, uma comunidade situada no Vale do Iguape, no município de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia. Essa pesquisa teve como questão norteadora a seguinte pergunta: quais os saberes e práticas da comunidade quilombola do Engenho da Ponte no que diz respeito ao cultivo da terra, particularmente quanto à cultura do dendê, e como acompanhar e assessorar essa comunidade no campo formativo da educação agroecológica? A pergunta emerge de uma continuada aproximação do pesquisador com o assunto da terra e com as lutas históricas do povo negro no Brasil, relacionadas ao uso e ao direito à terra, um campo regado de saberes ancestrais e populares pouco reconhecidos socialmente como conhecimento válido. O objetivo geral do trabalho foi identificar, através de uma relação dialógico-compreensiva entre comunidade e pesquisador, os saberes e as práticas utilizados pela comunidade, relativas ao uso da terra, especialmente aqueles/as que se relacionam com o cultivo do dendê. Antes de dar início ao processo de coleta de dados da presente pesquisa, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia, cujo parecer nº 4.141.501, datado de 08 de julho de 2020, consta como aprovado. Tendo escolhido a pesquisa-ação-intervenção como abordagem de pesquisa, utilizamos como dispositivos metodológicos a observação participante, a participação observante, a pesquisa documental, as rodas de saberes e as entrevistas semi-estruturadas. Os resultados apontam para a) um conhecimento construído no interior da própria comunidade e transmitido intergeracionalmente pela via da oralidade, que revelam um saber significativo no campo dos princípios agro-ecológicos; b) a destacada influência dos mais velhos ou dos mais experientes na preservação e transmissão desse saber ancestral, motivo pelo qual nessa pesquisa, assim como em outras, eles “ganham” o título de “Mestres”, c) uma prática de cultura do dendê que se diferencia pelo modo de produção, que se fundamenta em princípios distintos dos da lógica branco-ocidental dominante; d) um protagonismo feminino que é visível desde a gestão da associação e da criação de uma Articulação de Mulheres até as ações das mulheres no campo da produção agrícola, pecuária e pesca, sem falar de suas habilidades na comercialização dos produtos. O produto final desta pesquisa-intervenção foi a elaboração, desde uma postura dialógica, bem ao estilo freiriano, de folhetos informativos fundamentados nos saberes transmitidos oralmente pelos mestres populares da comunidade do Engenho da Ponte em articulação com o conhecimento científico no campo da agro-ecologia. Consideramos que esse registro do conhecimento acumulado, transmitido intergeracionalmente através da oralidade pelos membros da comunidade em torno do cultivo do dendê em bases agroecológicas, poderia resultar em importante contribuição para o campo da educação escolar e não-escolar, sobretudo a educação quilombola, tão bem quanto para o reconhecimento dos saberes quilombolas e de suas implicações para a construção positiva da identidade negra quilombola.